Ficha

«Dentro em pouco entrará em circulação a nova moeda que, segundo parece, será o luso. O luso é uma velha ideia do tempo em que o sr. Rodrigo Pequito foi ministro da Fazenda. A esta hora já as barras de prata estão prontas par entrar no forno a receberem esse calor que as torna maleáveis dentro dos seus cadinhos de tão bela coloração que os operários toram depois para fora com as enormes tenazes.
Entra de seguida a barra na laminagem para ficar na espessura desejada. A máquina faz o trabalho com uma enorme precisão, com uma igualdade matemática bem compreensível e dali passa para a enorme tesoura automática, igual à boca voraz de um peixe monstro, que a decepa como se fosse delgada folhinha de papel.
Outra fieira, os bancos de ajuste, a esta ainda e depois o corte recomeça noutro grande engenho onde se arredonda e fica do tamanho exato que terá na moeda. Restam os bocados esburacados da barra a que faltam as moedas que a máquina cortou e as quais vão ser recosida.
Faltar-lhe-á, porém, ainda nesta altura alguma coisa como a sua sagração, aquilo que a valoriza: o cunho.
Deitam-se no bocal duma outra máquina para daí a pouco, num tilintar as moedas saírem com o seu rebordo leve e protetor que protege o cunho, que se vai fazer, aquilo que as sagrará. Dum lado, naturalmente, a efígie da República gravada num grande cunho de aço; em baixo outro cunho onde se marcará talvez o valor e um operário move o braço do engenho, uma laçadeira empurra as rodelas e elas caem já poderosas numa vil caixa de folha. Trazem também já a serrilha obtida que é feita ao mesmo tempo que a cunhagem.
Assim nascerá o luso. Cá fora milhares de braços lutam por ele, milhares de cérebros se cansam pelo seu poder numa ânsia de o possuir aos milhões.»

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