VICENTE, Gil

  • Nascimento
    1465
  • Morte
    1536
  • Categoria Profissional
    Ourives e mestre da balança
Biografia

Dramaturgo, ourives e mestre da balança.
Nascido por volta de 1465, Gil Vicente foi o mais importante dramaturgo português, tendo a sua obra sido escrita em ambiente cortesão durante os reinados de D. Manuel I e D. João III. Casou pela primeira vez com Branca Bezerra e com ela teve dois filhos: Gaspar Vicente, que terá partido para a Índia na armada de 1506, vindo a tornar-se moço da capela real em 1519, e Belchior Vicente, que exerceu funções como escudeiro da Casa Real e escrivão da feitoria da Mina. Após enviuvar, casou uma segunda vez com Melícia Rodrigues, de quem teve alguns filhos, entre os quais Paula Vicente, tangedora, moça de câmara da infanta D. Maria e uma das compiladoras das obras do pai; e Luís Vicente, cavaleiro fidalgo da Casa Real e, junto com a irmã Paula, outro dos compiladores das obras do pai. Pensa-se que terá estudado na Universidade de Salamanca, mas foi pela sua obra dramática que acabaria por ser conhecido do grande público. O seu primeiro trabalho – a peça intitulada «Auto da Visitação», também designada «Monólogo do Vaqueiro» – terá sido representada nos aposentos da rainha D. Maria, mulher de D. Manuel I, na noite de 8 de junho de 1502, tendo em vista celebrar o nascimento do príncipe D. João, herdeiro do trono de Portugal com o nome de D. João III. O sucesso da representação mereceu-lhe desde logo o apoio da rainha D. Leonor, viúva de D. João II, que se tornou uma das suas principais protetoras ao longo dos anos subsequentes. Como provável ourives, Gil Vicente terá produzido a sua obra mais importante – a Custódia de Belém, destinada ao Mosteiro dos Jerónimos –, com o ouro proveniente de África no ano de 1506. Três anos depois, passaria a exercer funções como vedor de bens em ourivesaria no Convento de Cristo, em Tomar, e no Hospital Real de Todos os Santos, em Lisboa, antes de se tornar vassalo do rei e representante da bandeira dos ourives na Casa dos Vinte e Quatro. Em 1513, como hipotético mestre da balança na Casa da Moeda de Lisboa, terá sido designado pelos restantes mestres para representar o ofício na vereação de Lisboa. O Livro da Receita e Despesa do Tesoureiro de 1517 refere algumas vezes o seu nome, atribuindo-lhe o ofício de mestre da balança. Gil Vicente deixa de aparecer nas fontes da época a partir de 1536, o que permite presumir que tenha falecido por volta deste ano, talvez na localidade de Évora. Ao morrer, deixou atrás de si um legado literário constituído por alguma poesia e mais de quarenta peças, entre obras devotas (milagres, mistérios e moralidades) e profanas (comédias, farsas e tragicomédias), escritas em português e em castelhano, nas quais retratou a sociedade portuguesa do século XVI, satirizando as suas personagens e criticando os seus costumes com base numa linguagem chã e despretensiosa, sem grandes preocupações de ordem estética ou literária. Algumas das suas peças mostram um lirismo religioso e até algo patriótico, só compreensível numa época em que a Europa se abria à modernidade, Portugal se expandia para além das suas fronteiras e se tornava o protagonista do comércio com a Índia.